segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Episodio 1- Espoleta, mas e daí?

Antes de mais nada, quero dizer a todos que não sou escritor e muito menos redator, então... Ao achar algum erro (E acredite, poderão ser muitos), peça a minha senha e altere você mesmo. Nada pessoal, risos

Como prometido na semana passada e com 2 semanas de atraso, começo hoje a relatar um pouco da minha vida, minha jornada, meus medos, conquistas sucessos e fracassos. Lembrando que, ao citar nomes de pessoas que não vale a pena dar crédito, o farei com o uso de siglas e as pessoas queridas claro, terei o maior prazer de dar os créditos, kkkkkk

Vamos lá... Filho de dona Elsa Carvalho Cruz, neto de Zuleide de Carvalho Cruz e irmão de Elaine Cristina nasci na cidade de Santo Amaro da Purificação – BA que embora muitos teimem dizer que é a terra de Caetano Veloso eu insisto em dizer que a terra é minha, mas que ele também nasceu por lá.

Não sei muito sobre minha infância antes dos meus 4 ou 5 anos, porém, dessa idade em diante algumas lembranças estão vivas em minha mente até hoje e são elas que vou compartilhar com vocês.

Minha mãe prestava serviços para uma família de americanos mormons e nós todos morávamos nos fundos dessa casa que pra mim mais parecia uma mansão. A casa ficava na região do Caxingui, bairro relativamente nobre da cidade de São Paulo. Recordo que dona Elsa era uma espécie de governanta então eu e minha irmã tínhamos pouco acesso a casa da frente mas as raras vezes que eu podia ir eu sempre ia direto no armário onde tinha umas gotinhas de chocolate usadas para fazer cookies e claro, sempre tomava bronca de minha mãe.

Uma das coisas que não entendi até hoje era porque minha avó sempre no almoço e jantar colocava um prato vazio a mesa dizendo que era de Jesus, poxa, podia pelomenos colocar uma comidinha qualquer pra Ele né?

Eu sempre travesso, procurava maneiras de me divertir que nem sempre minha mãe entendia, nesses casos, ela usava um delicado objeto de couro mais conhecido como cinto para acalmar meus ânimos, era engraçado porque essa família americana tinha laços fortes com a historia da igreja mormom e esse cinto era uma homenagem aos Pioneiros da igreja, logo, ele era todo desenhado com carruagens, cavalinhos , pessoas hehehehehe e eu ficava por vezes com esses cavalinhos desenhados em meu corpo hahahaha...

Eu estudava já numa escola chamada Antônio Bento e como toda a criança tinha minhas crises de choro ao ir para o colégio, mesmo sabendo que o Tio Amadeu (Perueiro) era bem legal e que as crianças que iam comigo eram meus amigos...... Este colégio começou a me moldar para algo que eu definitivamente nunca gostei que foi estudar, mesmo assim, aos 6 anos me formei na pré-escola e presenciei o primeiro “problema” efetivamente que minha mãe teria comigo. Devido a minha pouca idade as escolas não queriam me aceitar na primeira série e até hoje nem sei o que ela fez para que eu estudasse a primeira série com 6 anos mas o fato é que deu certo... Recordo, que no primeiro dia de aula, no horário do recreio, andando pelo terreno baldio da escola (Professor Adolfo Gordo) eu achei um ímã gigante, daqueles de auto-falante mas era muito grande e eu fiquei faceiro com aquilo. Um coleguinha quis pegar de mim e ele era daqueles que chamávamos na época de “repetentes”, Ricardo, nunca me esqueço o nome dele. Esse guri “grandão” quis roubar meu achado e eu não pensei duas vezes e ao tirar das mãos dele e sem muita coordenação acabei o machucando na cabeça com o objeto, foi minha primeira suspensão, a coisa era como contar em casa e minha mãe certamente não iria me chamar de lindinho... Bom, neste dia choveu muuuuuuuito e minha mãe foi nos buscar e morávamos relativamente próximo a escola, para quem conhece a região vai se localizar facilmente. Na avenida Professor Francisco Morato havia um terreno ENORME que chamavam de “Antena da Gazeta”, neste terreno tem hoje o Shopping Butantã e nós morávamos em frente a este terreno que na época a avenida estava sendo construída ainda. Bom, tínhamos que atravessar a avenida Francisco Morato bem em frente a uma concessionária (Morumbi Motor) e uma enxurrada muito forte estava descendo a avenida devido as chuvas, esperei a orientação de minha mãe para pular e pulei ao seu comando, na sequência minha irmã mas infelizmente ela não teve reflexo suficiente e foi carregada pela enxurrada. Depois de descer mais ou menos uns 300 metros enxurrada abaixo e aos gritos de minha mãe, meu e também de minha irmã, com a ajuda dos próprios vendedores da concessionária e esperteza da minha irmã que ficou sentadinha e quando chegou no bueiro ela segurou na base com as mãozinhas até ser retirada. Foi a primeira cena de pânico que tive em minha vida, com uma sensação de perda daquela que era até então (mesmo muito chata) minha irmã. Bom, tudo sempre tem um lado bom todas as coisas que acontecem em nossa vida e a coisa boa disso tudo pra mim foi que minha mãe amolecida pelo acontecido nem usou os “pioneiros” em mim, e assinou a suspensão da escola com apenas um xingão básico hehehehehe

Bom, ainda ficamos mais um ano nessa região e concluí a segunda série no Adolfo Gordo e mudamos de casa e escola, já no colégio Theodomiro Dias cursando a terceira série senti demais a diferença de metodologia de ensino de uma escola estadual (Adolfo Gordo) para a Municipal, e essa foi minha primeira bomba, sim, primeira porque tiveram outras e jamais falo isso como um orgulho, mas sim como uma forma de que as pessoas entendam que não é porque você foi um CDF que isso vai te credenciar para uma vida de sucesso.

Não é demais lembrar que as condições financeiras da minha familia eram quase que precárias mas os dois empregos da minha mãe e as crianças que a minha vó cuidava ajudavam no orçamento para o básico. Não havia luxo, porém, não havia fome e com o básico vivíamos. Também com a ajuda de algumas pessoas como Humberto e Glória Silveira que seguidamente recordo que estavam sempre nos levando mantimentos. A igreja seguidamente nos ajudava também e assim íamos levando a vida.

Meus primeiros amiguinhos de rua foram o Luizinho, o Daniel, Paulo e tinha também o Marco (Alemão), além do Rodrigo que era meio doidinho e tinha menos contato. Nós brincávamos muito de carrinho de rolemã, pega-pega, esconde-esconde, na realidade coisas não tão comuns hoje e que deram espaço para os video games, computadores, celulares e afins. Mas éramos felizes construindo nossas espadas com galhos de arvores, traves com latas de leite condensado, bola de capotão e afins... Em frente a minha casa existia uma pequena praça com pés de goiaba e sempre subíamos nele pra comer no pé e certo dia estávamos eu e o luizinho na arvore e ouvimos barulhos de sirene de policia e quando olhamos através das arvores tinham algumas 8 ou 10 viaturas da policia descendo a rua e achávamos que alguém havia telefonado pra policia nos denunciando por estarmos comendo goiabas das arvores, O Luizinho chorava hahahaha dizia que o pai dele iria mata-lo, kkkkkk (Lembrei do detalhe do rosto de desespero dele agora, kkkkkk) mas na realidade era só um desfile das novas viaturas compradas pelo governo do então governador Orestes Quercia.

E assim eu levava minha vida até então sem nenhuma responsabilidade que não fosse os estudos, e falando neles chegou a hora de aprender a ver horas em relógio de ponteiro e quem disse que eu conseguia entender como ver horas naquilo? Era uma deficiência minha, meu raciocínio não conseguia somar de 5 em cinco e antes disso contar a hora, demorei muito pra aprender e confesso que até hoje é um pouco complicado, ainda mais aqueles que nem números tem.

Sempre fui ensinado na igreja, que eu precisava ter metas e objetivos claros na vida, e falando sobre minha primeira meta estipulada na minha vida devo voltar ao trabalho da dona Elsa. Ela já não estava mais naquela familia e sim numa espécie de hotel (alojamento) que atendia os membros da igreja que vinham de longe para passar no templo da igreja em São Paulo. Eu sempre muito curioso ia até o trabalho dela e lá comecei a ter contato com gente de diversas partes do Brasil e do Mundo. Um deles em especial, vou chama-lo de “boiadeiro” porque ele era de Marilia e se vestia como um mas infelizmente minha memória não me permite que eu lembre do nome dele. Mas o importante saber sobre isso foi que em uma conversa com ele me foi perguntado quais eram as minhas metas. Eu com uma mentalidade totalmente voltada a igreja sem hesitar respondi: Meta numero 1 é que eu só vou namorar depois dos 16 anos (Um aconselhamento da igreja para os jovens) e a numero 2 é que serei um missionário. Vamos voltar a falar dessas duas metas lá pra frente, Nunca mais vi o “boiadeiro” mas de qualquer forma sou grato a ele pela forma que ele me encorajou a estabelecer essas duas metas que até hoje reflete em coisas boas em minha vida.

Aproveitando que eu falava com todo mundo e que era ratinho do centro da cidade de SP porque minha avó adorava a Rua Direita, Xavier de Toleto fosse pra comprar coisas mais em conta pra nós todos ou para as consultas dela no Martins Fontes (hospital) e também na Caixa Econômica no penhor de jóias, eu odiava pq era muita, muita fila. Eu sempre fiquei muito ligado a tudo, ruas, caminhos, itinerário dos ônibus, nomes das linhas, paradas e etc, fui exercitando minha memória a ser fotográfica. Certo dia um senhor chamado Joventino de Manaus queria ir ao centro da cidade comprar algumas coisas para seus filhos e não sabia como ir, eu ouvi a conversa e com apenas 8 anos de idade disse a ele que se ele quizesse eu o levaria para conhecer o centro de São Paulo. Ele meio cético deu risada e eu logo percebendo que ele não estava me dando muito crédito eu disse: É fácil, atravessamos a avenida e pegamos o Estação da Luz numero 6145 que vai nos deixar na Xavier de Toleto, alí já estamos no viaduto do Chá, Rua Direita e pra esquerda a Rua Boa Vista e 25 de março. Surpreso o homem me perguntou: Você está falando sério que você conhece isso tudo? Bom, eu já fui várias vezes com minha avó, e agora posso ir com vocês. Desconfiado o homem aceitou minha proposta, perguntou quanto eu iria cobrar e eu disse que passava por baixo da catraca, não iria pagar passagem e que se ele quizesse poderia me pagar um sorvete. Foi esta a primeira vez que fui ao centro como Guia Turístico e confesso que foi bem legal, embora ver ele comprando aquele monte de brinquedos tivesse me deixado um pouco chateado porque eu não podia comprar e muito menos minha mãe. Mas, cumpri meu papel de leva-los e deixa-los de volta ao alojamento e ganhei o sorvete e também um carrinho NOVINHO, quando levei a lavanderia (onde minha mãe trabalhava) ela logo me perguntou onde havia conseguido e contei pra ela e claro, ela ficou furiosa comigo por ter ido “sozinho” ao centro, mas não deu nada... Minha fama se espalhou por alí e eu todos os dias da semana tinha gente pra levar ao centro. E assim iniciei minha jornada procurando convencer quem estava ao meu redor de que realmente era capaz de fazer determinadas coisas que em principio pareciam se não impossíveis, pouco prováveis para alguém da minha idade.

Alguns meses depois, meu então bispo (Fusco) que pertencia a um segmento da igreja chamado SEI (Sistema Educacional da Igreja) me convidou para ir viajar com ele para uma cidade do interior de SP, pensando bem hoje, acho que minha mãe deve ter dito a ele que eu não era normal, risos... Porque foi uma viagem meio que, como posso dizer... Investigativa sabem? Do tipo... deixa eu entender esse menino. Em um posto de serviços paramos pra comer algo e passamos em frente a uma prateleira cheia de chocolates e ele pediu para que eu escolhesse um, e eu fiquei muito indeciso porque as opções eram muitas e ele talvez com pressa pediu para que eu escolhesse logo e o porque da demora e então expliquei que estava procurando um maior para que eu pudesse levar um pedaço para minha mãe, avó e irmã. Ele já estava com alguns nas mãos e disse: "Daniel, eu já peguei o chocolate delas, escolha um pra você agora".

Altruísmo.... essa é a lei! E vamos falar muito sobre isso mais pra frente.

Obrigado.....